domingo, 17 de agosto de 2014

O Processo Formativo à Luz da Conferência de Aparecida

No Documento de Aparecida foi recolhido em seu número 278 uma orientação para o processo
 formativo daqueles que são chamados ao Sacerdócio. O Documento fala de cinco etapas: o Encontro (1), a Conversão (2), o Discipulado (3), a Comunhão (4) e a Missão (5).
   Neste processo percebemos que se trata daqueles que foram diretamente tocados pelo amor de Deus, e isto, a primeira vista, diz respeito ao Batismo recebido, o dom da fé que nos impele a aprofundar ainda mais este chamado que se estende pela filiação adotiva e o convite à santificação junto ao Filho de Deus; une-nos a Ele e apresenta-nos ao Pai, fonte de toda santidade.
    Mas isto não se realiza de forma adequada e inspiradora se não falamos aqui de um verdadeiro ENCONTRO com Jesus. A dinâmica deste Encontro nos leva a conhecer a Cristo, tê-Lo como Mestre, Amigo e Senhor. Pela fé este Encontro se enriquece, leva a perceber que não se trata de um mero encontro, mas de um ENCONTRAR-SE: encontro-me com Jesus Cristo, meu Mestre e Senhor em quem me realizo.
     Este Encontro enriquece aquele que se abre ao dom da graça e passa a perceber que o Mestre não é uma figura meramente histórica, mítica, mas de fato uma Pessoa, um amigo próximo. Neste Encontro, enfim, pode-se como que tocar seu coração chagado, ressuscitado e glorioso.
    Do encontro, pode-se avançar; a partir da abertura à graça, o Espírito Santo transforma o nosso ser, é a graça da CONVERSÃO. Diz-se que a Conversão é constante, é uma volta frequente ao Encontro. O Catecismo, citando Santo Agostinho, diz que a Conversão se dá por duas águas: uma é água do Batismo e a outra das lágrimas da Penitência (um Sacramento de constante "conversão" - "confissão"). Aquele que um dia nos encontrou e chamou nos chama a ter um coração sempre aberto, aberto à mudar, aberto à Conversão.
     Depois de ser encontrado e de encontrar-se, não há outra resposta a ser dada, não há outro caminho a ser seguido: é tornar-se Discípulo. No Encontro vimos que o Mestre chamou alguns para estar com Ele, e mesmo depois de sua volta para casa do Pai, continua a chamar, para o Seu Reino, para o Seu projeto de salvação (Igreja); atender este chamado, é fazer o caminho de DISCIPULADO ao lado do Mestre. Um Discipulado que se inicia e não tem fim enquanto estivermos neste mundo. No entanto não nos enganemos, é também um caminho que exige coragem. O Mestre não nos engana, é um caminho de Cruz; alguns não aceitam, rejeitam a cruz (como Pedro - Mt 16,23), mas o Senhor confia-nos a sua graça, ora por nós, porém não volta a trás: "quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, pegue sua cruz e siga-me (Mt 16,24). Mas jamais nos abandona. Podemos sentir as dificuldades do remar contra o vento: mas o Senhor está perto (Mc 6,48ss); podemos sentir medo porque o barco pode vir a naufragar: mas o Senhor está nele (Mt 8,24). Este é o caminho do Discipulado - de muitas cruzes e medos, mas com o Senhor sempre por perto a nos convidar: "Vinde, a sós, descansar um pouco" (Mc 6,31).
   É assim que o Senhor nos deseja, abertos à COMUNHÃO - à comunhão com ele, com sua obra. Abertos à comunhão com o Pai, obedientes como Ele o fora.  
       Por fim, trata-se de estar aberto à MISSÃO. Não há chamado sem missão, assim como não há missão sem dom... Se somos chamados ao Discipulado, o somos de fato para sermos enviados como discípulos-missionários do Senhor. 
      Olhando para Jesus, tenhamos n'Ele o nosso maior modelo nesse processo formativo permanente.

Texto: Encontro de Formação para Seminaristas
(Propedêutico 2014)

sábado, 19 de julho de 2014

Sacerdote - Soli[t]ário ou Soli[d]ário

      Nestes dias o clero da Diocese de Campos esteve reunido para seu retiro canônico. Teve como pregador Dom K. J. Romer (Bispo auxiliar emérito do Rio). Numa das pregações falou do celibato sacerdotal e lançou uma interrogação: quem abraça o Sagrado Celibato é um solitário? E desenvolveu sua colocação na dimensão SOLIDÁRIA DO SACERDÓCIO.
      Trata-se de uma imitação do Cristo Virgem e Solidário. Jesus teve muitas mulheres ao seu redor, ao ponto das irmãs Marta e Maria darem a entender algo estranho das suas atitudes em relação a Jesus. Mas Jesus sempre demonstrou muita segurança em sua missão. Não deixava-se confundir. Jesus,  como sabemos, sempre demonstrou porque veio, sempre foi muito claro. Jesus sempre foi SOLIDÁRIO aos seus e à sua missão - e que missão!
      Assim se desenvolve e tem continuidade o seu Sacerdócio nos seus Ministros na Igreja sobre a terra; não se trata de um bando de "solitários" ou solteirões pertencentes à uma organização piedosa (lembrando um pouco o Papa Francisco), mas de alguém que trás esta dimensão do Cristo Sacerdote; precisa ser também SOLIDÁRIO em sua missão, desenvolver este Dom (Mt 19,11. 12d ) com e em "solidariedade" com e aos irmãos, sobretudo em relação às mulheres - que se abstêm.
      Na realidade atual é muito difícil a sociedade em geral entender isso:  para a populaça é uma loucura; para a psicologia, uma tortura; para outras linhas, atraso da Igreja. Mas para a Igreja e para aqueles que a ela ainda entendem como proposta de seu Mestre e Senhor, sinal de amor, obediência e doçura àquele que foi o primeiro a desenvolver este sinal no meio dos homens e das mulheres sem nada confundir e livre de interesses outros, como puro sinal de SOLIDARIEDADE com a humanidade que Ele tanto ama.
      O sacerdote é chamado a desenvolver este dom, desde o seminário, lugar dos primeiros contatos com o Mestre que nos convida a imitá-Lo mais de perto.

Ah, só mais uma coisa: o Rio de Janeiro continua lindo.