sexta-feira, 16 de abril de 2010

O ENCERRAMENTO DO ANO SACERDOTAL

Caros Presbíteros,

         A Igreja sem dúvida está muito feliz com o Ano Sacerdotal e agradece ao Senhor por haver inspirado o Santo Padre a decidir sua realização. Todas as informações que chegam aqui a Roma sobre as numerosas e multíplices iniciativas programadas pelas Igrejas locais no mundo inteiro para realizar este ano especial constituem a prova de como foi bem recebido e - podemos dizer – correspondeu a um verdeiro e profundo anseio dos presbíteros e de todo o povo de Deus. Estava na hora de dar uma atenção especial de reconhecimento e de empreendimento em favor do grande, laborioso e insubstituível presbitério e de cada presbítero da Igreja.

         É verdade que alguns, mas proporcionalmente muito poucos, pesbíteros cometeram horríveis e gravíssimos delitos de abuso sexual contra menores, fatos que devemos rejeitar e condenar de modo absoluto e intransigente. Devem eles responder diante de Deus e diante dos tribunais, também civis. Mas estamos antes de mais nada do lado das vítimas e queremos dar-lhes apoio tanto na recuperação como em seus direitos ofendidos.

         Por outro lado, os delitos de alguns não podem absolutamente ser usados para manchar o inteiro corpo eclesial dos presbíteros. Quem o faz, comete uma clamorosa injustiça. A Igreja, neste Ano Sacerdotal, procura dizer isto à sociedade humana. Qualquer pessoa de bom senso e boa vontade o entende.

         Dito necessariamente isso, voltamos a vós, caros presbíteros. Queremos dizer-vos, mais uma vez, que reconhecemos o que sois e o que fazeis na Igreja e na sociedade. A Igreja vos ama, vos admira e vos respeita. Sois também alegria para nossa gente católica no mundo, que vos acolhe e apoia, principalmente nestes tempos de sofrimentos.

         Daqui a dois meses chegaremos ao encerramento do Ano Sacerdotal. O Papa, caros sacerdotes, convida-vos de coração a vir de todo o mundo a Roma para este encerramento nos dias 9, 10 e 11 de junho próximo. De todos os países do mundo. Dos países mais próximos de Roma dever-se-ia poder esperar milhares e milhares, não é verdade? Então, não recuseis o convite premuroso e cordial do Santo Padre. Vinde e Deus vos abençoará. O Papa quer confirmar os presbíteros da Igreja. A vossa presença numerosa na Praça de São Pedro constituirá também uma forma propositiva e responsável de os presbíteros se apresentarem, prontos e não intimidados, para o serviço à humanidade, que lhes foi confiado por Jesus Cristo. A vossa visibilidade na praça, diante do mundo hodierno, será uma proclamação do vosso envio não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (cfr. Jo 3,17 e 12,47). Em tal contexto, também o grande número terá um significado especial.

         Para essa presença numerosa dos presbíteros no encerramento do Ano Sacerdotal, em Roma, há ainda um motivo particular, que a Igreja hoje tem muito a peito. Trata-se de oferecer ao amado Papa Bento XVI nossa solidariedade, nosso apoio, nossa confiança e nossa comunhão incondicional, diante dos frequentes ataques que lhe são dirigidos, no momento atual, no âmbito de suas decisões referentes aos clérigos incursos nos delitos de abuso sexual contra menores. As acusações contra o Papa são evidentemente injustas e foi demonstrado que ninguém fez tanto quanto Bento XVI para condenar e combater corretamente tais crimes. Então, a presença massiva dos presbíteros na praça com Ele será un sinal forte da nossa decidida rejeição dos ataques de que è vítima. Portanto, vinde também para apoiar o Santo Padre.

         O encerramento do Ano Sacerdotal não constituirá propriamente um encerramento, mas um novo início. Nós, o povo de Deus e os pastores, queremos agradecer a Deus por este período privilegiado de oração e de reflexão sobre o sacerdócio. Ao mesmo tempo, propomo-nos de estar sempre atentos ao que o Espírito Santo quer nos dizer. Entretano, voltaremos ao serviço de nossa missão na Igreja e no mundo com alegria renovada e com a convicção de que Deus, o Senhor da história, fica conosco, seja nas crises seja nos novos tempos.

         A Vrigem Maria, Mãe e Rainha dos sacerdotes, interceda por nós e nos inspire no seguimento de seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.

Roma, 12 de abril de 2010.

Cardeal Cláudio Hummes

Arcebispo Emérito de São Paulo

Prefeito da Congregação para o Clero

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Congregação para o Clero

“Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem o Pai ungiu com o Espírito Santo, e revestiu de poder, te guarde para a santificação do povo fiel e para oferecer a Deus o santo sacrifício”; “Recebe a oferenda do povo para apresentá-la a Deus. Toma consciência do que fazes e põe em prática o que vais celebrar, conformando tua vida ao ministério da cruz do Senhor”.

Cidade do Vaticano, 27 de março de 2010.

Caríssimos irmãos no Sacerdócio
Nestes dias pascais reviveremos o Mistério da nossa Redenção, faremos os gestos e pronunciaremos as palavras que se encontram verdadeiramente no coração da nossa existência sacerdotal. Na Sexta-feira Santa reviveremos o gesto humilde e profético da prostração, idêntico àquele vivido no dia da nossa Ordenação. No Tríduo Pascal teremos a ocasião de acolher os renovados dons da graça, implorando à Providência Divina os frutos abundantes para nós e para a Salvação do mundo.
Tal como nos recorda a fórmula da unção com o óleo do crisma, somos revestidos com o mesmo poder de Cristo, com a potestas que o Pai consagrou no Espírito Santo o Seu único Filho, e que nos foi dada com o explícito fim de santificar o Seu povo e de oferecer o Sacrifício Eucarístico. Qualquer outra utilização do poder sacramental recebido com a Ordenação é ilegítimo e perigoso, seja para a nossa salvação pessoal, seja para o próprio bem da Igreja.
Não é por acaso que o rito, consciente da desproporção absoluta entre a grandiosidade do Mistério e a pequenez do homem, afirma: “Toma consciência do que fazes”. Nunca poderemos, totalmente, ter consciência do grande Mistério que foi posto em nossas mãos, no entanto, somos chamados a uma contínua tensão para a perfeição moral, para viver “o Mistério que foi posto em nossas mãos” e sermos “imitadores de Cristo”.
Esta é a extraordinária e irredutível novidade quotidiana do Sacerdócio: o Mistério que se põe em nossas mãos! O Senhor do tempo e da história, Aquele fez todas as coisas, do Qual viemos e para o Qual vamos, o Autor da vida faz algumas das suas pobres criaturas participantes do próprio poder salvífico, entregando-se totalmente em nossas mãos como um Cordeiro imolado. Que tal entrega nunca seja traída! Mantenha-se firme em nós a certeza do abraço de predileção que o Senhor nos deu e nos faça, sobretudo no tempo de provação, renovar o nosso “sim”: um “sim” consciente dos próprios limites, mas não por eles bloqueado; um “sim” livre de todo complexo de inferioridade; um “sim” consciente da história, mas não por ela intimidado; um “sim” que – como aquele pronunciado pela Beata Virgem Maria, na Casa de Nazaré – perdurou no tempo, tornando-se atual nos Santos e no hoje da nossa existência.
Um sacerdote que se conscientize daquilo que faz, conformando a própria existência a Cristo, vence o mundo! E tal vitória é o verdadeiro “documento” da Ressurreição de Cristo.


Mauro Piacenza
Arcebispo tit. de Victoriana
Secretário